domingo, 9 de março de 2014

Desperdício de dinheiro no setor logístico

O Brasil parece não aprender a lição. Estamos diante de um cenário crítico no que se refere a investimentos em infraestrutura de transportes. Meu Deus! A maioria de nós sabe da importância desses investimentos para o crescimento do Brasil e para a dignidade e qualidade de vida dos brasileiros, mas aquela minoria que detém o poder e o usa em favorecimento da corrupção para, com ela, mudar sua própria vida, vem ignorando até o dinheiro – aquele dinheiro que os Tribunais de Contas exercem fiscalização ferrenha e não dão tantas chances para aquelas “embolsadinhas” básicas.
investimento pelo raloEm 2013, quando mais precisávamos desses investimentos, não só pela Copa do Mundo, mas pelo nosso passado de poucos caraminguás destinados à manutenção e implantações de rodovias – embora eu acredite que os investimentos em modais que diminuam o custo do frete sejam tão importantes quanto rodovias que, hoje, são o passado de muitos países que desenvolveram suas ferrovias e hidrovias para competir no mercado global – o que se investiu foi muito aquém da necessidade do país. O ano foi marcado pelo efeito daquelas denúncias, prisões, demissões e afastamentos, em 2012, de funcionários do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), inclusive da Superintendência, e de algumas empreiteiras acusadas de associação à corrupção. Com isso, o Tribunal de contas da União (TCU) e o Ministério Público Federal (MPF) ficaram de olho nos custos das obras espalhadas pelo país diminuindo as possibilidades de desvios e, assim, o interesse pela realização dos projetos – até os já licitados.
Fácil entender, difícil aceitar que um país que sofre tanto com a deficiência logística possa desperdiçar tempo e dinheiro que beneficiaria a economia por não ter uma fiscalização eficiente e, quando feita, vem travar e arrastar os processos por um longo período além do necessário. Aliás, é mesmo complicado que o Órgão que devia fiscalizar compartilhe da mesma corrupção que deveria combater.
A verdade é que não foi utilizada NEM A METADE do orçamento destinado às obras de rodovias em 2013; e mais: em 2012 foram utilizados quase 700 milhões a mais do que 2013 cujo orçamento aprovado seria praticamente o dobro de 2012. Veja os números, segundo dados do Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal (SIAFI):
- 2012: Mais de R$ 7 bilhões foram utilizados.
- 2013: R$ 13,2 bilhões aprovados pelo Congresso Nacional. Apenas R$ 6,3 bilhões foram utilizados até o início de novembro (48% do orçado para o ano).
A maior obra de 2013 seria na BR 101, na divisa de Santa Catarina com Rio Grande do Sul, cujo orçamento autorizado foi de R$ 423,5 milhões, mas só R$ 89,9 milhões foram pagos efetivamente. Outro trecho na BR 116, Porto Alegre/Pelotas, de R$ 363 milhões foram utilizados apenas R$ 66,5 milhões. O próprio DNIT que previa um investimento de R$ 252,4 milhões para estudos, projetos e planejamento de infraestrutura de transportes, dinheiro do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), só utilizou pouco mais de R$ 37 milhões. Ainda assim, planejamento muito caro para tão pouca eficiência [...].
Para piorar, algumas obras em andamento serão pagas com o orçamento de 2014. Os chamados “valores empenhados” que serão feitos neste ano, por obras iniciadas em 2013, serão pagos com recursos previstos para 2014, pois os orçamentos não são cumulativos.
O governo disse: – Taí o dinheiro! As empreiteiras disseram: – Oba! Os Tribunais de Contas disseram: – Estamos de olho! O DNIT disse: – “Sujou!” E a Logística ficou como aquele milionário que morreu no deserto com o bolso cheio de dinheiro para comprar água.
Esgotaram assim, as desculpas dos órgãos “responsáveis” pela infraestrutura do país: falta de tempo, clima (com cheias e secas), reviradas políticas… Mas, a mais utilizada, sem dúvidas, sempre foi a falta de dinheiro. E agora, o que falta-nos ouvir em meio ao descaso com que é tratado o setor logístico no Brasil?


Escrito Por : Marcos Aurélio da Costa Foi Coordenador de Logística na Têxtil COTECE S.A.; Responsável pela Distribuição Logística Norte/Nordeste da Ipiranga Asfaltos; hoje é Consultor na CAP Logística em Asfaltos e Pavimentos (em SP) que, dentre outras atividades, faz pesquisa mercadológica e mapeamento de demanda no Nordeste para grande empresa do ramo; ministra palestras sobre Logística e Mercado de Trabalho.

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